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Archive for the ‘Tati Bernardi’ Category

O teatro da moça banal

Olho pela sacada da minha casa e vejo você chegando. Corro para o enorme espelho do meu quarto e repito em mantra: eu não gosto dele, eu não gosto dele, eu não gosto dele.

Tenho quase 30 anos e consegui estragar todos os meus relacionamentos simplesmente porque gostei demais das pessoas. Dessa vez quero acertar, por isso, combinei comigo que apesar de estar morrendo por você, não gosto de você.


Espero você tocar a campainha olhando o escuro pelo olho mágico. Meu coração dispara mas eu mando ele parar. Estraguei todos os meus relacionamentos de tanto que meu coração dispara. Dessa vez quero acertar, dessa vez quero que alguém fique comigo ao menos um mês sem me achar louca. Cansei de sempre ser a garota louca que espanta todo mundo.


Você tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro. Mas apenas te dou um beijinho no rosto. Preciso me comportar. Ser como as minhas amigas que se dão bem e arrumam namorados apaixonados. Há anos que eu rasgo os rapazes, enlouqueço, me apaixono, devoro. E termino sozinha no Espaço Unibanco querendo morrer enquanto olho sem fome para o pacotinho com dez mini pães de queijo. E os caras morrendo de medo de mim.


Chega. Dessa vez vou acertar. Não vou chorar na sua frente porque acho um absurdo estar viva, não vou pirar porque deu quatro da manhã e eu tenho a impressão de que a noite é uma coisa de pirar a cabeça. Não vou beijar sua nuca no meio da noite e gostar de você como naquela canção do Legião que diz que é como se não houvesse amanhã. Eu gosto das pessoas pelo prazer de gostar e não porque deu tempo de gostar delas. E ninguém entende nada. E todo mundo se assusta. Mas prometo ser uma mulher normal dessa vez.


Você não sabe porque eu não te atendi o dia todo. Eu te conto que é porque estava muito ocupada. Minhas amigas sempre usam essa desculpa e sempre namoram. Eu era a louca que nem esperava os caras ligar e já ligava pra eles. Mas dessa vez to ignorando o telefone. Mesmo que ele fique no meio das minhas pernas o dia todo esperando um telefonema seu. Mas você jamais vai saber disso.


E jamais vai saber mesmo, sabe por que? Porque você é o primeiro homem do mundo que não sabe que eu tenho esse site. Chega. Todos os homens morrem de medo desse site e eu não agüento mais essa porra dessa solidão que me dá toda vez que procuro um pouco de amor nos beijos e abraços curtos que alguém me dá só pra poder transar depois. Chega. Você não vai saber nem a pau que eu tenho esse site e muito menos que eu gosto de você e escrevo sobre você.


Aí você fala que vai cortar o cabelo e eu quero implorar pra você não cortar. Porque esses seus cachos acabam comigo. O cheiro do seu cabelo. A maneira descabelada que você usa pra parecer arrumado. E eu amo a sua cara de argentino e que você odeia os argentinos. E eu amo como a sua calça nova cai bem em você e como você fica elegante de chinelo. E eu quero te pedir pra deixar tudo como está e não cortar meus cachos prediletos de todos os cachos. Você me salvou. Eu não agüentava mais pensar nos mesmos caras que eram sempre os mesmos caras. Você é novinho em folha e eu sou louca por você. Mas tudo isso eu não te conto pra você não achar que eu sou louca. Chega. Dessa vez vou fazer tudo certo.


Já é a sexta vez que você vem na minha casa e até agora nada. Não transei com você. Apesar de pirar na sua barriga e na sua nuca. E de querer eternizar o seu cabelo e o seu nariz feio. E de achar que o seu cheiro é o cheiro de uma nova vida que eu estava precisando tanto. E de eu te adorar principalmente porque eu já nem sabia mais como era adorar alguém novinho em folha. Não, não transei com você. Chega de transar sonhando em andar de mãos dadas. Agora vou andar de mãos dadas pra ver se vale a pena transar. Porque dessa vez vou fazer tudo direito. Chega.


E você nem sonha que eu sou bipolar, quero ser mãe e acredito no amor da vida. Acredito no amor pra sempre. Acredito em alma gêmea. Você nem sonha com essas coisas porque só conversamos coisas leves e engraçadas. Chega de ser a louquinha intensa. Maior legal transar e se divertir com a louquinha intensa, mas quem agüenta o tranco de me assumir, de me amar? Ninguém. Chega.


E você pede pra fazer xixi e faz o xixi baixinho. E eu corro no espelho de novo e repito cem vezes que não gosto de você. Não gosto de você. Não gosto de você.


Porque se eu gostar de você, eu sei que você vai embora. E eu simplesmente não agüento mais ninguém indo embora. Porque nessa vida maluca só se dá bem quem ignora completamente a brevidade da vida e brinca de não estar nem aí para o amor. E eu preciso me dar bem e por isso ignoro minha urgência pelo amor. Porque se você sentir urgência em mim, vai é correr urgente daqui. Chega.


E você implora pra gente finalmente transar. Já é a sexta vez que você vem aqui. E eu quero muito. Muito. Porque você tem a voz mansinha e só fala coisa inteligente. E você é cínico sem ser maldoso. E graças a Deus você não é publicitário. E nem é amigo dos meus amigos. E ta cagando para as meninas bonitas do seu Orkut porque você pira em mim. E eu quero transar com você e te contar que escrevo sobre você e que morro pelo seu cabelo. Mas não, não. Estou morrendo de vontade de ser eu mas ser eu só tem me feito perder e perder. E eu quero ganhar. Só dessa vez. Chega.


E eu quero me dar de bandeja pra você. E dentro de mim uma voz diz: pira Tati, enlouquece. Vive um dia e já está bom. Depois eu demoro semanas pra me levantar mas pelo menos fui intensa e vivi um dia. Mas não agüento mais nada disso. Quero viver uma história. Por isso dessa vez não vou transar e nem gostar de você. Tchau. Peço pra você ir embora. E você jura que eu não estou nem aí pra você. Melhor assim. Dessa vez quero fazer tudo certo. Chega de fazer tudo errado.


E eu te espio da janela, indo embora. E quero berrar o quanto gosto de você. E te pedir em namoro. E rasgar sua roupa. E te comer. E dormir enroscada no seu cabelo. E te mandar flores amanhã. E mais uma vez agir como um homem. Mas eu cansei de ser homem. Chega de usar o pinto que eu não tenho pra foder comigo. Eu sou menina. E meninas só transam depois do sexto encontro. Ou depois que o cara fala que gosta delas. Dessa vez vai ser assim. Chega.

E se você não se apaixonar por mim mesmo com todo esse teatro de moça banal que eu estou fazendo, vai ser a prova que eu precisava pra saber que você realmente vale a pena.

TATI BERNARDI 

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Ele me espera no restaurante das árvores. Diz que até o garçom já sabe que eu sou como sou, de tanto que ele não tem outro assunto. Ele me espera, pede mais pãezinhos, ensaia um bom vinho para mim, limpa o suor da cara no guardanapo. E vai esperar por toda a noite.

Mal sabe ele que acabo de responder a uma mensagem de texto dizendo que vou chegar em minutos. Ele me espera com a porta do banheiro aberta, enquanto esfrega seu centro num ato de pureza. Ele quer sacanagem comigo, mas daquele tipo de sacanagem pura com direito a perguntar baixinho “tá doendo”?

Não muito longe dali ele se prepara para sair com os amigos, seus amigos tão deliciosos quanto ele. Passa o mesmo perfume que eu, mas na versão masculina. Seu charme está em ter transformado a sua dor em ironia. Adoro pessoas sofridas. Adoro o ódio medroso e óbvio das pessoas sofridas. Talvez amanhã a gente possa se odiar juntos, num ato de sinceridade livre e animal perante tantos amores pálidos pela cidade corretinha. A cidade corretinha que faz bodas disso e bodas daquilo, mas se entope da porra do Prozac, mas se entope da porra do canal de sexo com aquelas mulheres de sobrancelha desenhada. Mas se entope da porra da opinião dos outros sobre o que é ter chegado lá. Ninguém chega a porra de lugar nenhum.

Mas eu chego, e estaciono meu carro lá dentro, como se fosse dona do pedaço. Ao menos por algumas horas eu serei dona de um pedaço que agora é esfregado no banho em mais um ato de pureza. A sacanagem óbvia é muito mais pura que o ódio envergonhado das bodas disso e das bodas daquilo.

Ele pede a conta e vai embora. Jantou sozinho, o coitado. Se tenho pena? Nenhuma. Nenhuma. Cavoco meu ser até quase me virar do avesso para resgatar um pouco de bonitinho em minha alma, mas descubro que não tenho nenhuma pena dele. Não gosto de quem não amo e ponto final.

Ele encontra os amigos deliciosos e vai ganhar a noite. Se perde muito para tal. Mas ganha alguma coisa sim, sempre se ganha alguma coisa. Talvez uma rinite alérgica ou um buraco no peito. Mas sempre se ganha alguma coisa na noite.

Eu espero comportada do lado de fora enquanto ele termina de se esfregar. Sei da bucha porque sua pele chega quente e vermelha. Tenho vontade de colar minhas veias na dele para que meu sangue ganhe aquele mesmo movimento. Desde que ele me contou numa noite besta que queria salvar o mundo e isso não me soou mais um papinho furado sobre salvar o mundo, fiquei assim. Tenho vontade que meu sangue e o dele passeiem juntos.

Nós vamos mais uma vez nos olhar querendo transar até amanhã, mas vamos apenas assistir à novela e tentar adivinhar as falas. Nós vamos mais uma vez querer atravessar as ruas de mãos dadas, mas vamos brincar de dar ombradas um no outro. Eu prefiro morrer sua amiga do que quebrar algum elo misterioso e te perder para sempre. Te perder como sempre.

Ele escuta uma dessas músicas da modinha ao estilo Madeleine Peyroux antes de dormir e tenta entender qual é o meu problema. Será que eu não fui porque ainda sofro por aquele amor mal resolvido? Será que eu não fui porque tenho medo do amor? Será que eu não fui porque tenho medo de sofrer? Ahhh, os homens apaixonados. Ainda mais burros que as mulheres que acreditam na dor irônica. Eu não fui apenas por uma razão: eu não gosto de quem eu não amo e fim de papo.

Tiro o carro da garagem dele e corro para encontrar o outro e seus amigos deliciosos. Ele tem braço de estivador e tem um buraco entre o começo da perna e o fim do tronco. Coisa de homem sarado. Só não digo que ele parece o Bob da Barbie porque esse era eunuco e vivia rindo. Se bem que ele vive rindo e ri tanto que não parece ter centro. Parece eunuco.

Adoro sua virilha, sou obcecada por ela. Adoro seus amigos fortes. Adoro tudo o que dói nele, como diria aquela fala do filme “Closer” que eu adoro. Adoro que posso encontrá-lo sempre depois das três da manhã, sempre depois dos jantares que eu não vou e das transas que eu não faço. Adoro que posso morrer por ele ou nem lembrar que ele existe. Amor de pica é assim mesmo: o maior e o mais leviano de todos.

Ele acabou de me descobrir pela Internet e dorme tentando me encontrar, tentando me encaixar. Sente uma pontada no peito e uma pontada lá embaixo. Deve ser engraçado ser homem e amar assim de maneiras tão opostas e complementares. Ele não sabe que tudo o que eu mais quero é casar e ser mãe de um casalzinho que dança pelado antes do banho. Mas esse meu querer está esquecido em algum canto de mim, está esquecido depois de tanto eu querer isso e a vida me dizer que eu ainda não podia.

Ganhei a porra da dor irônica. Ainda que seja estupidez acreditar nela. Agora o que eu quero é saber que o outro se esfrega no banho, que o outro se fode no restaurante, que o outro me espera sempre depois das três e tem amigos deliciosos. Que o outro é especial demais, mas talvez ainda não seja o personagem principal daquela festa de final de novela, com todos os personagens de bem.

Está acabando a história, mas ainda dá tempo de não amar mais um pouquinho. Mando uma mensagem para ele, que a essa altura dorme abraçado a uma menina que já encheu o saco, achando que encontrou a mulher da vida. Mando uma mensagem para ele, que a essa altura dorme demais como sempre e já deve ter me esquecido, mesmo lembrando de mim em todos os intervalos de coisa melhor pra pensar. Mando uma mensagem para ele, ainda que ele já tenha desistido do amor e prefira o cheiro de chiclete com chulé da nuca da sua filha.

Durmo com mais de trinta homens, e mais uma vez sozinha. Mas esse texto, juro, é uma comemoração a isso. No fundo, no fundo, eu gosto. Ainda que eu me sacaneie com pureza e me pergunte baixinho: tá doendo?

 

TATI BERNARDI

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Sou…

Pensando sobre o meu eu lírico, encontrei nas palavras da Tati um resumo da minha definição:

“Sou pessoa de dentro pra fora.

Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto.

Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.

Sou isso hoje… Amanhã, já me reinventei.


Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.

Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina… E vice-versa.

Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar…


Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos.

Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa.

Sou pessoa de riso fácil…e choro também!”

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O contrato

Combinamos que não era amor. Escapou ali um abraço no meio do escuro. Mas aquilo ali foi sono, não sei o que foi aquilo. Foi a inércia do amor que está no ar mas não necessariamente dentro de nós.
A gente foi ao cinema, coisa que namorados fazem. Mas amigos fazem também, não? Somos amigos. Escapou ali um beijo na orelha e uma mão que quis esquentar a outra. Mas a gente correu pra fazer piadinha sexual disso, como sempre. E a orelha ouviu uma sacanagem qualquer, e a mão se encaixou ali no meio das minhas pernas.
Você me chamou de amor ontem, enquanto a gente transava. Eu quis chorar. Mas também quis rir muito da sua cara. Acabei só esquecendo isso. Talvez o “mô” que você murmurou, seja porque no dia anterior, naquela mesma cama, você tenha comido alguma “Mônica”. Prefiro pensar assim. Se eu for muito, mas muito escrota, talvez eu me proteja de me assustar muito. Caso você seja escroto. Eu sendo de pedra não quebro com a sua pedra. Sei lá.
Aí teve aquela cena também. De quando eu fui te dar tchau só com a manta branca e o cabelo todo bagunçado. E você olhou do elevador e me perguntou: não to esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu. Eu sempre fui sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer.
Mas a gente combinou que não era amor. Você abriu minha água com gás predileta e meu sabonete de manteiga de cacau. E fuçou todas as minhas gavetas enquanto eu tomava banho. E cheirou meu travesseiro pra saber se ainda tinha seu cheiro. Ou pra tentar lembrar meu cheiro e ver se ele ainda te deixa sem vontade de ir embora. Mas ainda assim, não somos íntimos. Nada disso. Só estamos aqui, reunidos nesse momento, porque temos duas coisas muito simples em comum: nada melhor pra fazer e vontade de fazer sexo.
Só isso. É o que está no contrato. E eu assino embaixo. Melhor assim. Muito melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só porque o seu chapéu é muito legal. Não deixa eu assim, deslizando pelas paredes do chuveiro de tanto rir porque seu cabelo fica ridículo molhado. Não faz a piada do vampiro só porque você achou que eu estava em dias estranhos. Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso.
Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado.
Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo.
Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre.
E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor.
E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro.
Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.

 

TATI BERNARDI

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ESTAR SOZINHO

Estar sozinho é engraçado, louco, angustiante, libertário e triste,
tal qual estar com alguém.
No entanto, estar sozinho é absolutamente o oposto de estar com alguém.
Estar sozinho é fechar as mãos no nada quando se atravessa a rua correndo e não se tem uma mão para segurar.
É acordar sem saber o que será do dia porque planejar sozinho dá preguiça
A vida simplesmente acontece para quem está sozinho, às vezes sem que a gente perceba, pois é mais fácil ter noção de si mesmo através de outra pessoa.
É o doce que substitui mal e amargamente o sexo.
Estar sozinho, ou estar sozinha, pode acontecer com qualquer um.
E você torce para que aconteça com a sua melhor amiga, ou com aquele homem que você gostaria de experimentar como uma pílula para a sua solidão.
Estar sozinha é não suportar ouvir a palavra solidão porque ela faz sentido.
É conferir a caixa de e-mails com uma freqüência que beira a compulsão.
É chorar do nada. É acordar do nada. É morrer de medo do nada que fica no estômago.
Estar sozinho é uma coisa física, ou melhor, é a falta dela.
Você se sente oco por dentro, por isso aquele respiro profundo de lamentação.
Quando chove, venta, escurece, e você está sozinho, você lembra de Deus
e do quanto é pequeno.
Estar sozinho é detestar ficar em casa.
Ficar em casa sozinho, quando se está sozinho, é muita solidão.
É estar pronta para algo novo e não agüentar mais dias iguais.
É ocupar a vida dos outros com reclamações, lamentações, dúvidas e carências.

Resumindo:
estar sozinho é triste, enche o saco dos outros e deve fazer mal para a saúde.

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E por falar em dar… dar não é fazer amor. Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido, mas dar é bom pra cacete. Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca, te chama de nomes que eu não escreveria, não te vira com delicadeza, não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar. Dar sem querer casar, sem querer apresentar pra mãe, sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo. Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral, te amolece o gingado, te molha o instinto. Dar porque a vida de uma publicitária em começo de carreira é estressante e dar relaxa. Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã. Tem caras que você vai acabar dando, não tem jeito. Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro. Dar é bom, na hora. Durante um mês. Para as mais desavisadas, talvez anos. Mas dar é dar demais e ficar vazia. Dar é não ganhar. É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro. É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir. É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: “Que cê acha amor?”. Dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor, esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar.

Tati Bernardi

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